segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

É Dezembro

Já estámos em dezembro. Pelo visto, é o mês mais querido do ano que acaba de chegar. Com isso, o ser humano prepara-se para responder às exigências do consumismo  mesmo durante a actual crise, fazendo com que nossos bolsos se esvaziem, mas curiosamente que nossos rostos se alegrem. E todos os anos quando chega dezembro, o filme se repete.
 Por isso, diante de um mercado forte e diversificado, somos continuamente seduzidos pela publicidade e marketing, que prometem bem-estar, status, conforto, projecção imediata e ilusão de segurança. Com a chegada das festas de fim de ano, a lógica do “consumo, logo existo”, segundo a qual o bem-estar é conquistado pela aquisição de produtos, se torna ainda mais evidente.
 
Nessa rede de confusões também somos convidados a fazer balanços, projectos e comemorações. O que para muitos é um período feliz, para outros têm um efeito contrário. O reencontro com a família, a lembrança de alguém que partiu ou a falta de identificação com o trabalho ou relacionamentos pode transformar esta época em um período triste e até mesmo provocar uma depressão. Quando a felicidade é vendida no leilão da ganância, não será no curto período de um mês, com data e hora marcadas, que as pessoas irão se tornar fraternas; o máximo que conseguirão será agradar o estômago e a garganta.
Mas felizmente, surgem criatividades dessas contradições e são nelas que devemos colocar nossas esperanças. Então aproveitemos! Mudemos os hábitos. Um gesto de solidariedade não gera dívidas, um abraço não precisa de cartão de crédito e para sorte de todos nós, depois do dia 31, a Vida continua...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A NOSSA GERAÇÃO

 
Nascemos depois da guerra e da luta. Depois dos sonhos e da ilusão de muita gente que acreditava num devir melhor. Nascemos depois de uma democracia instituída e em construção. Crescemos com progresso e com esperança. Mas será que prestámos atenção?
 
O universo, eu sei, rege-se pela lei do menor esforço, da poupança de energia. Ninguém escapa a isso. Mas a nossa inteligência tem que ser capaz de ir mais além e, aprendendo com a história, prevenir os problemas para construir um futuro melhor…
 
Mas dizem que somos da geração da viragem por causa da paz, democracia, do crescimento económico, da liberdade, do emprego, da educação, das universidades,... Mas como nascemos sem ditadura e sem guerra, nunca verdadeiramente nos preocupámos com o que mais interessa! Por isso tantos de nós não participam em nada, não dizem nada, não pensam nada... Porque cansa pensar, porque cansa sonhar, porque cansa discutir, porque cansa reclamar, porque cansa esperar.
 
A maioria da nossa geração anda metida em espectáculos de verão, em barracas e discotecas (onde a música, a droga e o álcool ocupam o lugar do pensamento), em consumismo vazio e cego (de última geração ao último grito na moda de roupa e acessórios) e colados à internet ou facebook.
 
A verdade é que temos que dar muito mais de nós, temos que ser mais exigentes com a nossa geração e não nos limitarmos a queixar da geração anterior que possa ter sido corrupta e má gestora...
 
Afinal, de que nos serve termos muito mais formação e informação que as gerações que nos precederam? Os conhecimentos que adquirimos têm que nos servir para sermos mais capazes de intervir sobre a sociedade a todos os níveis (económico, social, político e cultural). Temos que ser mais capazes de pensar pelas nossas cabeças, encontrar novos equilíbrios sociais e propor soluções criativas, inovadoras e eficazes! O futuro do nosso país depende de nós, da nossa capacidade de criação, inovação e intervenção. No fundo, a verdadeira alternativa somos nós!
 

domingo, 21 de outubro de 2012

Caso Fred Jossias

O Puto mais Fofo de África Austral, com o seu “domínio carismático”, forma, deforma, fofoca, comanda e impõe os sonhos, os gostos, os hábitos, pensamentos e dizeres da massa. Para tal manipulação, recorre-se a caixas de ideias e teorias altamente sofisticadas das fofocas e bifes da geração da velocidade em busca da conquista do imaginário.
Pelas proporções alarmantes que o seu programa (atracções) vem tomando, ele chega aos mais diversos grupos sociais, desde os mais enriquecidos aos mais empobrecidos, contudo, com uma visão do mundo limitado, ele deixa, sobretudo a camada juvenil passiva, inapta a reflectir, questionar, ou criticar, as informações que recebem.

Portanto, o Puto Fred, já virou uma marca e paradigma, que está presente em nossas vidas e com quem nós estamos em intenso contacto, muitas horas por dia. Esse personagem é infiltrado nos lares, com sua voz poderosa, apenas nos dá respostas, agrega valores e estabelece relações hierárquicas, atrai os receptores a valorizarem e adoptarem seus dizeres e modos de ser, agindo no quotidiano das pessoas e na vida social. Por meio de tais práticas, o seu programa, torna-nos os seus reféns.

Diante dessa turbulência acorda-se a necessidade de grandes transformações. Mas, paira no ar a grande questão: Como reagir? É preciso desenvolver a capacidade de resistir, agir e não colocar-se inerte frente às imposições do suposto programa de maior audiência jamais visto no país. Mas quando analisamos de perto o programa descobrimos logo que a nossa moçambicanidade não se resume no que apresenta o puto fanfarrão.

Por isso, precisamos de sair do comodismo que nos encontramos e posicionarmos como cidadãos críticos e participativos, na tentativa de traçar estratégias defensivas a esse poder dominador.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Carta aberta ao Senhor Faizal Sidat: Presidente da Federação Moçambicana de Futebol,

Senhor Faizal,
O nível da  tua arrogância é tão elevado, que te achas no direito de querer a todo custo perpetuar-se no comando da Federação Moçambicana de Futebol, a fim de dar prosseguimento a compromissos de toda ordem, que em nada vão possibilitar a edificação de um projecto consistente e verdadeiramente voltado para o nosso futebol.
Mas decepção e indignação são as palavras que melhor se adequam à tua situação actual.
Por isso, para o teu bem, seria bom sair do mundo de futebol! De bola o senhor não entende nada. Alias, o sr não percebe nada de futebol. Podia perceber de Marketing, de contabilidade, de relações públicas, de equipamentos desportivos, de turismo, mas não percebia o suficiente de futebol. Seria bom da tua parte abraçar outra profissão ou regressar no teu mundo de bussness. Esse é o único lugar que o futebol te reserva por enquanto para tentar esconder as tuas insuficiências.
É verdade que o senhor Faizal não está a aguentar a pressão mas não desiste porque te falta coragem e talvez tens interesses alheios que ainda te pregam nessa cadeira. Não adianta insistir porque a falta de serenidade levou-te a decidir mal. Está tudo errado: as escolhas dos treinadores e as facturas que se pagam em função dessas escolhas. Talvez fez tudo isso porque o dinheiro não saía do teu bolso. Por isso, seria bom que o senhor Faizal tivesse a humildade de reconhecer isso mesmo.
Por favor, seja pelo menos corajoso, e marque de uma vez por todas a data da tua demissão para o bem de futebol moçambicano.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O caso "Bispo Macedo"

De tudo que indica, a igreja universal foi criada pelo Bispo Macedo, antes de tudo como meio de sobrevivência e enriquecimento pessoal e familiar. Tudo foi feito e organizado de modo a que o homem se tornasse um instrumento fácil de manipular, pelas mãos hábeis daqueles aos quais aproveita a religião como fonte de rendimentos.

Pelo visto, o Bispo Macedo conseguiu o seu objectivo de possuir uma empresa, que explora a humanidade crente, vendendo o nome de Deus a grosso. Com sua grande habilidade, em pouco tempo a sua pregação caiu no gosto popular, penetrando nos corações, nas vidas e nas casas dos moçambicanos, invadindo inclusive hospitais como forma de pôr em causa o nosso sistema nacional de saúde.
Tal ideal de vida conquistaria, como realmente aconteceu, ao simples cidadão, enfim, a gente humilde. Mas não tendo ficado restrita à classe inculta e pobre, como seria de se pensar, começou a ganhar adeptos entre académicos e intelectuais não esclarecidos.

Por isso, torna-se necessário que o povo seja esclarecido acerca dos assuntos de crenças e religiões nos termos da verdade, da razão e da lógica, a fim de se libertar de medo, tabus e dogmas inventados pelos homens de Deus.
Uma boa dose de conhecimentos científicos é certamente a melhor maneira de remover os obstáculos à libertação do homem, criado pelo Bispo Macedo, nas suas pregações.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O primitivismo contemporâneo

É triste e revoltoso quando observamos a nossa volta, a falta de consciência que existe nas pessoas. O primitivismo está de tal modo que já não existem valores a serem respeitados. A cada dia que passa há cada vez menos respeito por si mesmo como pelos outros.
 
Nos dias de hoje, o que era de baixo nível é o que todos querem usar. Acho que é uma pena que as mulheres se tenham deixado tornar um produto consumível como uma lata de cerveja, e que o homem se tenha tornado tão fútil que seja isso que lhe chame mais atenção. De facto vivemos tal como os répteis, com os nossos instintos mais primitivos e carnívoros.
 
Estamos no tempo em que o assassino mata e diz que ajudou, que achamos certo que para fazermos paz temos que fazer guerra. O Homem é valorizado pelo que tem não pelo que é no seu interior.
Existe uma grande inveja de certo extracto social, não a nível financeiro, a nível de berço, valores, princípios, educação que estão em decadência, e a TV, rádio, revistas pornográficas, internet, facebook são os principais motivadores disso tudo. Tudo isso acontece por nossa culpa, pois deixamos de ser nós para ser o que os outros dizem, pois deixamos que a nossa liberdade fosse comprada com toda facilidade e naturalidade do mundo. Portanto, estamos rodeados por pessoas sem amor pelos outros, só amor pelo dinheiro, pessoas corruptas mas que se apresentam sempre como benfeitores, mas o pano terá que cair.

O nível é preocupante porque muitas pessoas não têm bagagem. O ter bagagem vem de ter uma educação, postura, moral, respeito, amor-próprio e pelos outros. Faz tudo parte de uma boa bagagem.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Na República de auto-estima:

  1. Os Jovens atravessam a fronteira do País e partem à procura de um futuro com Futuro.
  2. A Educação é como uma licenciatura tirada sem mérito e sem trabalho arquitectada por amigos docentes e abençoada numa manhã dominical.
  3. É mais importante a estatística dos números que a competência científica dos alunos porque o que interessa é encher as salas.
  4. A corrupção faz parte do jogo onde os jogadores e os árbitros são carne do mesmo osso e partilham o mesmo tempero.
  5. A justiça é ela própria uma injustiça porque serve quem é rico e influente com leis democraticamente pobres.
  6. As prisões não são para os ladrões ricos porque os ricos não são ladrões. Já que um desvio é diferente de um roubo.
  7. Os governantes, na sua esmagadora maioria e apenas possuem experiência partidária que os conduz pelas veredas do "sim ao chefe".
  8. A Saúde é uma doença crónica onde, quem pouco tem e é sempre colocado na coluna da despesa.
  9. Se paga a quem nada faz e se taxa a quem pouco aufere porque no teu País a incompetência política é definida como coragem patriótica.
  10. As falências são uma normalidade, o desemprego é galopante, a criminalidade assusta, o limiar da pobreza é gritante, mas a importação de carros de luxos ... aumenta.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Entre o desejo de ter filho e a infertilidade: O impacto emocional

O desejo de ter filhos é um sentimento inato, primitivo. A fertilidade está relacionada à realização pessoal, e a incapacidade de procriar representa uma falha em atingir o destino biológico, além de ser um estigma social. Portanto, a capacidade de perpetuar a espécie representa uma essência para a realização do ser humano, e todos os tempos e em todos os povos. A preocupação com a fecundidade vem se desenrolando na história de tal modo que a incapacidade de gerar representou, sempre, uma ameaça, um temor que poderia significar motivo de degradação nos grupos familiares e sociais.

A nossa sociedade sempre exerceu uma cobrança muito forte com relação à maternidade. As mulheres, até mesmo quando crianças, já são induzidas a brincar de boneca, panelinha, gerando em si mesmas o desejo de ser mãe. Com a descoberta da infertilidade, a mulher sente sua feminilidade ameaçada, pois isso impede que se cumpra a vocação natural de ser mãe. Alem disso, elas sentem-se imperfeitas, incompetentes, alienadas do mundo fértil e excluídas da vida social.

Por isso, quando um casal descobre sua infertilidade, vêm à tona diversas questões existenciais humanas, sociais e também religiosas. Essa pressão social é intensificada a partir do momento em que eles se casam. O próprio padre ou pastor no momento da cerimonia já demonstra essa pressão social, quando ele diz aos noivos que estes estão constituindo uma nova família. Logo após a cerimonia começam as cobranças da família e dos amigos sobre quando irão ter filhos.

Com tanta pressão que nossa cultura e sociedade exercem sobre o casal, quando os mesmos descobrem que são inférteis, se deparam com a frustração de suas expectativas e da sociedade. A infertilidade é vivida pelo casal como a perda de uma grande capacidade – a de procriação. Eles passam a ter a sensação de serem os únicos que enfrentam esse “problema”. Alem disso, todas estas questões geram um grande stresse na relação sexual, pois esta passa a ter um papel cujo objectivo maior é a procriação e não o prazer.

Com isso, esse casal chega ao ponto de se questionar se são suficientemente bons para o seu parceiro e alguns pensam até em abdicar do casamento para que o companheiro possa ter um filho com outra pessoa.
É uma realidade muito triste.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

EM NOME DA GANÂNCIA


O pior inimigo do homem é o próprio homem. Se o ser humano tem um predador, esse predador são os seus próprios companheiros. O homem no geral é ganancioso, busca acima de tudo o poder, e consequentemente muito dinheiro, pois afinal, em nossa sociedade dinheiro é poder, todo mundo sabe disso. E para que o ser humano deseja poder e dinheiro? Justamente para se impor aos outros, ser melhor que os outros. E quem são os outros? Os outros são seus próprios companheiros, sua própria raça.
Toda essa sede pelo poder e a ganância desmedida pelo "ter", conduziu a sociedade injusta em que vivemos, onde reina a desigualdade social, em que muitos têm pouco e poucos têm muito.
E no centro disso tudo está o governo, o Estado. Nos livros, o Estado e a Teoria Geral do Estado, são fascinantes. A teoria é linda com uma visão romântica e poética que temos do Estado. E isso nos fez por muito tempo não questionar a realidade que nos cerca.
Todavia, hoje é diferente. Portanto, nos manuais, nas escolas e nas universidades, o Estado é ensinado, idealizado e retratado como o "Deus na Terra", aquele ente que tem a responsabilidade de fornecer segurança e garantir as necessidades básicas do homem. Mas na prática a realidade é outra. É outra, porque aqueles que exercem o poder de governo buscam loucamente satisfazer os seus próprios interesses e de sua classe, sem se importar verdadeiramente com o bem-estar do povo.
E como não tem interesse na instrução do povo para que não se rebelem contra a ordem vigente, os governantes nada fazem para melhorar a vida do seu povo.
O desejo dos governantes é que sejamos patrióticos como vítima do lambebotismo, e que aceitemos todas as suas determinações silenciosamente, sem qualquer protesto, como ignorantes da geração da velocidade.
O Estado por meio dos governantes, que são homens, é um lobo feroz, que ataca os cidadãos, e os impede de reclamar contra a ordem vigente quando lhes nega um sistema educacional adequado, deixando-os em completa ignorância.
Todos deviam ter a consciência de que o poder emana do povo, e que os governantes apenas nos representam, e que se concedemos o poder temos também a prerrogativa de tirar um dia.
Enquanto isso não ocorre, continuaremos a viver em um Estado falido, injusto em que os governantes são verdadeiros lobos na pele de cordeiro, que usam o poder para satisfazer seus interesses, desprezando o bem-estar da população. AMEN

sábado, 23 de junho de 2012

A NATUREZA SOCIAL DO HOMEM

A análise do comportamento dos seres humanos conduz-nos a reconhecer que estes são dotados de uma natureza eminentemente social. Mostra-nos a observação que o homem, ao contrário da grande maioria das espécies, não vive isoladamente, mas em sociedade.
Mas quem diz sociedade humana diz vida de convivência. E quem diz convivência diz regras, pois não podem as pessoas viver em comum sem que exista, ao menos, um elenco mínimo de princípios por que se pautem os seus recíprocos modos de agir.
O dado fundamental da vida social é, na verdade, que esta não pode fazer-se sem uma disciplina. Superando os elementos que a compõem, a sociedade é, em si mesma, uma entidade para cuja subsistência essencial, é condição sine qua non a presença de regras que atribuam a cada indivíduo uma função específica, determinando-lhe outros, quer por meio de actos quer por meio de omissões, em ordem à consecução dos fins sociais.
A existência de normas capazes de definir os comportamentos de cada homem nas suas relações com os demais é, assim, um dado inerente à própria vida das sociedades, pois a colaboração interindividual que delas é pressuposto não pode desenvolver-se sem que surjam regras comummente obedecidas pelos respectivos membros.
Por outro lado, as regras de conduta constituem o instrumento responsável para se obter a segurança de que cada membro do grupo necessita na sua vida de relação com os demais.
Na verdade, só a existência de regras de conduta social permite tornar previsíveis as condutas alheias e a elas adequar, portanto, as condutas próprias. É esta previsibilidade que proporciona aos indivíduos a necessária segurança e faz possível, por via dela, a colaboração interindividual necessária ao conseguimento dos fins sociais.

Gaby Lomengo

terça-feira, 12 de junho de 2012

“Lambebotismo“ retarda o desenvolvimento dos jovens


Falta de direcção e referências, a ganância pelo poder político e económico sem o mínimo esforço, assim como o excesso de bajulação e “ lambebotismo “ são apenas alguns de uma lista de males que enfermam a juventude moçambicana. Há jovens por ignorar o seu potencial ficam atrelados a figuras ou organizações políticas, num cenário de bajulação e “lambebotismo”, para obterem ganhos pessoais. As figuras referenciadas devem servir de fontes de inspiração da camada juvenil nas acções de combate contra todos os males que minam o desenvolvimento do país, assim como a melhoria das condições de vida dos moçambicanos, principalmente a corrupção.
Por isso, é necessário que os jovens tenham um espírito aberto e que saibam aceitar as posições dos outros, mas combatendo sempre os dogmas através do questionamento constante das soluções acabadas. Isso, segundo ele, tem que ser feito da maneira mais científica possível, quebrando tabus.
O contrário disso atrofia a análise e leva-nos a aceitar tudo o que vem como certo, incontornável e indiscutível. Aceitar tudo equivale ao lambebotismo, que é o maior mal que graça a nossa sociedade, onde as pessoas tendem a querer agradar o chefe, com todas as artimanhas possíveis.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O Homem do Senso Comum e a filosofia

O homem do senso comum vive imerso em seus afazeres quotidianos, sua vida e eminentemente utilitarista, na medida em que vive a partir de um senso imediatista do mundo. É um homem que vive num período de uma educação mercantilista e tecnicista cujo único objectivo e preparar os jovens como mão-de-obra para o mercado de trabalho. É um homem que vive num mundo utilitarista, pragmático onde o material ocupa todas as instâncias colocando o subjectivo na periferia. Isto é, as tarefas quotidianas do conforto material do trabalho, de casa e até mesmo o entretenimento e o divertimento impedem que homem comum dedique-se a uma reflexão mais profunda sobre a sua existência, reflexão que poderia aproxima-lo mesmo que de uma forma bastante superficial da filosofia.

É neste sentido que dogmatismo na vida deste homem está fortemente enraizado devido a sua relação prática e utilitarista com o mundo que não permite uma abertura a reflexão filosófica. Para ele, tudo deve possuir um sentido e uma utilidade, e se tal sentido e utilidade já se encontram como “dados” por isso não faz nenhuma reflexão crítica sobre o fundamento da realidade ou da constituição do mundo.

Assim o homem do senso comum, absorvido pelas suas actividades quotidianas no trabalho e na relação familiar, não vê nenhum propósito na exploração da essência do mundo porque isso já se manifesta como algo definido para ele. Mas o perigo e o mal disso tudo não só constrói um dogmatismo no sujeito, como acaba por determinar toda uma história de vida, do modo de ser de um sujeito no mundo. A sua compreensão do mundo, o seu posicionamento ético, o seu comportamento, os seus medos, os seus preconceitos, as suas decisões, tudo que envolve a sua existência acaba por ser determinada a partir do seu posicionamento dogmático. Ou seja, o dogmatismo uma vez enraizado aprisiona o espírito no senso comum de tal forma, que se torna uma tarefa muito difícil desconstrui-lo. O dogmatismo forma desde a infância, uma base muito forte, na qual o sujeito deposita todas as suas forcas, romper com esta base significa em última instância um exercício perigoso na medida em que a compreensão de mundo ficará suspensa por tempo indeterminado e a realidade irá mudar completamente, colocando o indivíduo na angústia da sua própria existência.

Assim, a ruptura com o dogmatismo é elemento chave para o filosofar, elemento sem o qual a própria filosofia não se move. Esta emancipação exigirá do homem imerso no dogmatismo, em primeiro lugar, um afastamento do mundo prático.

Portanto, a filosofia como demonstramos anteriormente e a única capaz de causar a ruptura do homem do senso comum com o seu dogmatismo. Tal conquista exige do indivíduo uma ruptura com as instâncias dogmáticas, que o impedem de evoluir intelectualmente rumo a um processo emancipadores, de libertação de nossas crenças e limitações.

Entendemos que esta abertura a filosofia, manifesta-se como algo intimamente existencialista, na medida em que o indivíduo, movido por motivações de ordem pessoal, conduzido pela admiração, pela dúvida, pela revolta ou pela insatisfação moral, questiona a totalidade dos fundamentos da realidade visando a ruptura com uma espécie de “dogmatismo natural” que impede a compreensão clara e objectiva dos factos a sua volta.
Por “realidade” entende-se não somente a existência material ou subjectiva do sujeito no mundo, mas todo o contexto cultural, politico e ideológico que o cerca, o funcionamento das estruturas de poder e de dominação que se manifestam na sociedade contemporânea. O reconhecimento desta realidade se da mediante a ruptura com o dogmatismo, através da actividade do filosofar. A conquista do filosofar por sua vez e existencialista na medida em que o indivíduo absorvido pelos próprios questionamentos sobre o “véu” que esconde esta realidade resolve romper por iniciativa própria com o seu dogmatismo, quebrando as cadeias de pensamentos triviais do senso comum.

Uma vez que sejam quebradas estas cadeias e o dogmatismo seja rejeitado, o homem comum suspende todos os seus juízos, sendo que a sua compreensão de mundo acaba por vacilar, deslocando o indivíduo do seu prumo de centro e o afastando da realidade pragmática do mundo. Este afastamento do mundo incide em um problema serio que pode desembocar na adopção de uma posição céptica ou niilista. Para que o indivíduo não se perca neste percurso e necessário o seu retorno ao mundo, só que desta vez, o “mundo” possuirá um significado diferente do que possuía para o dogmático anteriormente, pois uma vez que tenha conquistado o “filosofar”, sua concepção de mundo passa a ser eminentemente filosófica.
Gaby Lomengo

sexta-feira, 9 de março de 2012

Compreender o mundo e o outro

Ajudar a transformar a interdependência real em solidariedade desejada, corresponde a uma das tarefas essenciais da educação. Deve, para isso, preparar cada indivíduo para se compreender a si mesmo e ao outro, através de um melhor conhecimento do mundo.

Para podermos compreender a crescente complexidade dos fenômenos mundiais, e dominar o sentimento de incerteza que suscita, precisamos, antes, adquirir um conjunto de conhecimentos e, em seguida, aprender a relativizar os factos e a revelar sentido crítico perante o fluxo de informações. A educação manifesta aqui, mais do que nunca, o seu caráter insubstituível na formação da capacidade de julgar. Facilita uma compreensão verdadeira dos acontecimentos, para lá da visão simplificadora ou deformada transmitida, muitas vezes, pelos meios de comunicação social, e o ideal seria que ajudasse cada um a tornar-se cidadão deste mundo turbulento e em mudança, que nasce cada dia perante nossos
olhos.

A compreensão deste mundo passa, evidentemente, pela compreensão das relações que ligam o ser humano ao seu meio ambiente. A exigência de uma solidariedade em escala mundial supõe, por outro lado, que todos ultrapassem a tendência de se fecharem sobre si mesmos, de modo a abrir-se à compreensão dos outros, baseada no respeito pela diversidade. A responsabilidade da educação nesta matéria é, ao mesmo tempo, essencial e delicada, na medida em que a noção de identidade se presta a uma dupla leitura: afirmar sua diferença, descobrir os fundamentos da sua cultura, reforçar a solidariedade do grupo, podem constituir para qualquer pessoa, passos positivos e libertadores; mas, quando mal compreendido, este tipo de reivindicação contribui, igualmente, para tornar difíceis e até mesmo impossíveis, o encontro e o diálogo com o outro.

A educação deve, pois, procurar tornar o indivíduo mais consciente de suas raízes, a fim de dispor de referências que lhe mpermitam situar-se no mundo, e deve ensinar-lhe o respeito pelas outras culturas. Há determinados ensinamentos que se revestem de uma importância fundamental a este respeito. O ensino da história, por exemplo, serviu muitas vezes, para alimentar identidades nacionais, pondo em relevo as diferenças e exaltando o sentimento de superioridade, essencialmente, porque se concebia numa perspectiva extra-científica. Pelo contrário, a exigência de verdade, que leva ao reconhecimento de que “os grupos humanos,
povos, nações, continentes, não são todos iguais”, por isso mesmo, “obriga-nos a olhar para além da experiência imediata, a aceitare reconhecer a diferença, e a descobrir que os outros povos têm uma história, também ela, rica e instrutiva. O conhecimento das outras culturas torna-nos, pois, conscientes da singularidade da nossa própria cultura mas também da existência de um patrimôniocomum ao conjunto da humanidade.

segunda-feira, 5 de março de 2012

SER JOVEM

Partimos da idéia que ser jovem é, ao mesmo tempo, uma condição social e um tipo de representação. De um lado há um carácter universal dado pelas transformações do indivíduo numa determinada faixa etária. De outro, há diferentes construções históricas e sociais relacionadas a esse tempo/ciclo da vida. De maneira geral, podemos dizer que a entrada da juventude se faz pela fase que chamamos de adolescência e é marcada por transformações biológicas, psicológicas e de inserção social. É nesta fase que fisicamente se adquire o poder de procriar, quando a pessoa dá sinais de ter necessidade de menos proteção por parte da família, quando começa a assumir responsabilidades, a buscar a independência e a dar provas de auto-suficiência, dentre outros sinais corporais e psicológicos.
Mas, ao mesmo tempo a construção social da juventude pode se dar de forma muito variada nas diferentes sociedades e em diferentes momentos históricos. Assim, podemos dizer que cada sociedade e cada grupo social lida e representa de maneira diversa esse momento. Essa diversidade se concretiza nas condições sociais (classes sociais), culturais (etnias, identidades religiosas, valores), de gênero, nas regiões geográficas, dentre outros. É muito diferente, por exemplo, a noção do que é o jovem, de como vivencia esta fase e de como é tratado em famílias de classe média ou de camadas populares, em um grande centro urbano ou no meio rural. Nesta perspectiva não podemos enquadrar a juventude em critérios rígidos, como uma etapa com um início e um fim pré- determinados, muito menos como um momento de preparação que será superado quando entrar na vida adulta.
Devemos entender a juventude como parte de um processo mais amplo de constituição de sujeitos, mas que tem suas especificidades que marcam a vida de cada um. A juventude constitui um momento determinado, mas que não se reduz a uma passagem, assumindo uma importância em si mesma. Todo esse processo é influenciado pelo meio social concreto no qual se desenvolve e pela qualidade das trocas que este proporciona. Enfim, podemos dizer que não existe um único modo de ser jovem, o que nos leva a enfatizar a noção de juventudes, no plural, para explicitar a diversidade de modos de ser jovem existentes. Neste sentido, é fundamental que cada escola ou projeto educativo busque construir, em conjunto com os próprios jovens, um perfil do grupo com quem atuam, detectando quem são eles, como constroem o modo de ser jovens, as suas demandas, necessidades e expectativas.

A construção de uma sociedade democrática não pode desconsiderar os desafios e dilemas vividos pelos diferentes sujeitos sociais nos seus ciclos da vida. Esse desafio está colocado para os jovens e para o mundo adulto. Estamos desafiados a incrementarmos ainda mais as políticas sociais de caráter universal e de construirmos políticas específicas voltados para segmentos juvenis, grupos étnico/raciais e setores marginalizados na sociedade.
Os indicadores sociais e os dados estatísticos apontados nesse texto revelam não só uma imensa diversidade presente na condição juvenil como, também, o processo de desigualdade que incide sobre os jovens de acordo com de sua origem social, gênero, raça/etnia.
Se reconhecemos que as sociedades também se constroem na diversidade, não podemos esquecer essa importante dimensão do humano nos momentos de implementação de políticas públicas. Um dos desafios colocados pela juventude para os/as educadores/as e formuladores de políticas é: como construir políticas e práticas que visem a igualdade social e ao mesmo tempo contemplem a diversidade do mundo juvenil?
Se compreendemos que vivemos em meio a diferente formas de ser jovem e temos diante de nós juventudes, no plural, não podemos pensar que somente a implementação de uma política social de caráter universal, voltada para a juventude, contemplará por si só as especificidades desses sujeitos. Por isso, fazem-se necessários a elaboração de diagnósticos mais precisos, o conhecimento das diversas condições juvenis, a socialização das práticas positivas existentes e o desenvolvimento de uma maior responsabilidade e sensibilidade para com esses sujeitos sociais nos seus processos de formação humana.


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Juventude Africana: entre o sonho e a realidade

A juventude tem valor em si mesmo; por aquilo que é, que pode dar hoje e que amanhã poderá dar. Mas, o continente negro não sabe dar valor aos seus filhos. Nos países africanos o desemprego juvenil e a falta de mão de obra qualificada afectam gravemente a economia do continente. 
África vê hoje em dia o seu futuro, que podia ser limpo e coerente, bastante comprometido. A juventude está entregue à sorte do destino, por uma questão de ignorância dos dirigentes africanos, porque educar um povo é criar recursos necessários para o desenvolvimento durável. Em África a classe política tem medo de ver o aumento do nível de conhecimento da sua própria juventude, pensando que isto poderá vir a pôr em perigo as ideias medíocres e perturbar o sistema político falhado que lhes facilita a vida. A educação de todos pode vir a ser factor da desobediência social, levaria evidentemente à mudança ou poria fim aos anos de manipulação do poder público, pois um homem dotado de conhecimento tem todos os meios necessários para reivindicar os seus direitos e participar activamente na vida política do seu país e do seu continente.  
A democracia nunca conheceu o valor real, de sistema político que visa servir o povo e satisfazer as suas necessidades. Pelo contrário, tem estado a ser usada para servir um grupo de indivíduos, os que criam empresas políticas  e às quais dão nomes sob a bandeira de Partido Político. O intuito é simples: utilizar os meios do povo para atingir objectivos pessoais – riqueza fácil através de roubos aos pobres povos.
África tem que pôr ao serviço dos jovens os meios técnicos e académicos com programas de formação flexíveis que possam responder ao mercado de trabalho, implementar uma política de promoção da competência, dotá-la de meios necessários para contribuir para o crescimento económico e combater o desemprego no seio da juventude.

O continente vai de mal a pior. Ou, tudo está normal como dantes? Questionamos aos que hoje têm as rédeas do poder político mas que não têm vontade política suficiente para dirigir um povo que a fome e a miséria sufocam. Um povo cujos filhos  cansados de viver em plena instabilidade, mudam de país para país e de nacionalidade todos os dias à procura do que nunca tiveram na sua terra, à procura da paz, estabilidade política e económica. Conquistar o bem-estar no continente, é um combate que vai levar tempo, é de longo fôlego, de coeficiente de dificuldade superior.

Os males que assolam o continente africano serão vencidos quando os homens africanos compreenderem que o momento é para apostar no trabalho, na honestidade da gerência dos bens públicos, valorizando os recursos humanos e investindo na camada jovem, os dirigentes dos futuro.

A esperança reside na alma daqueles que acreditam no futuro, o homem não pode viver sem esperança, todos os homens esperam por alguma coisa, o coração de África espera sobretudo pela Paz, Estabilidade e Desenvolvimento durável…. Aos poucos África está a mudar, cantaram os "Africando", vamos continuar a sonhar. Dias de glória hão-de chegar.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

COMPREENDER O PENSAR E O FILOSOFAR

Pensar é uma atitude espontânea no ser humano. Todo o ser humano pensa e exprime as suas vivências e preocupações através do pensamento e da palavra. A palavra (oral ou escrita) é um veículo do pensar, e é indisociaável da actividade pensante. Pensamos com palavras e as palavras encerram significados. As palavras dão-nos o sentido das coisas, dos acontecimentos, dos estados de espírito. A linguagem modela o nosso mundo, os conceitos dão-nos o significado do que queremos compreender (racionalmente). O pensamento procura constantemente interpretar os sinais que o nosso mundo nos envia, quer do exterior (relações sociais, natureza, cosmos) quer do interior (alegria, ansiedades, medos, sonhos, aspirações, etc.). todo o ser vivo, em particular os ser humano, vive num universo hermenêutico. E , se os outros seres vivos do nosso planeta reagem sobretudo aos sinais emocioanais, afectivos e instintivos, nós reagimos aos sinais inteligíveis, aos que não se vêem, mas se pensam.
E, se toda a actividade humana implica pensar (a ciência, a religião, a política, o comércio), haverá alguma diferença entre pensar e filosofar? Será a filosofia um pensar diferente? Em que consiste a diferença?
Desde os primórdios da actividade filosófica que os filósofos têm distinguido entre sensação, entendimento e razão.
Sentimos e procuramos compreender o que sentimos. Queremos e procuramos compreender em que sentimos exercer a nossa vontade.
Pensamos através de juízos lógicos e orientamos a nossa vida pelas conclusões que o raciocínio nos possibilita.
Mas a filosofia procura ir mais longe, e, em vez de apenas pensar e fazer, quer pensar o pensar e pensar o fazer. A filosofia procura criar as condições para o despertar da razão, faculdade de compreender (intuitivamente) para além dos jogos lógicos do entendimento.
A filosofia tem duas grandes dimensões: uma teórica, que é a procura de explicações racionais, isto é,  a procura dos grandes princípios lógicos que nos permitem compreender a realidade (e compreender o que é compreender) e inclui a lógica, a gnosiologia e a ontologia; e outra prática, que consiste na procura das regras que devem orientar a nossa acção, e engloba a ética e a filosofia política.
No entanto, a filosofia não pretende apenas descrever o modo como o ser humano pensa e age, mas compreender o porquê desse pensar e desse agir e prescrever indicações que nos permitam caminhar para formas de consciência mais elevadas, que semam plataforma de um mais saudável entendimento entre os habitantes do nosso Planeta.
O que a filosofia busca é tornar-nos conscientes dos nossos pensamentos, das nossas emoções e das nossas motivações para a acção; ser consciente, despertar. E, se no nosso quotidiano dormimos, é preciso uma NOVA MANEIRA de estar na vida (a filosófica) para alterar esta situação.
É por isso que a filosofia não é apenas mais uma disciplina para escolas ou universidades; é antes uma nova maneira de estar na vida. Não basta pensar. É preciso estar consciente do contéudo desse pensar. Quando não estamos conscientes não sabemos o que fazemos. Filosofia é procurar pensar conscientemente para agir livremente.
GABY LOMENGO

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A Morte de Muamar Khadafi: Os fundamentos do novo cenário histórico.

Cada homem pensa em função de um contexto, de um palco, a partir do qual foi dado a possibilidade de (in) compreender a dinâmica do próprio ser que faz de si um sujeito cogitante. Este palco do pensamento, embora com especificidades que lhe são próprias, existe num campo comum ao qual a vida foi dada não somente aos homens mas também a diversidade dos seres como um direito próprio, num confronto permanente com a própria maneira de pensar
A um sujeito africano que pensa a partir do seu contexto significa olhar para o seu redor numa dimensão de conjunto buscar as especificidades versus particularidade ou mesmo problemas do seu e, deles definir a relação intersubjectiva como factor comum da construção de uma história própria que caracteriza o meio que é próprio, deste modo africano.
A África outrora continente, sem história, sem cultura, descendente do Caim, símbolo da maldição, etc., é o palco sobre o qual a relação consciência e real fazem de eu um sujeito inquietante. A self da minha própria inquietação deu-se quando recebi, sentado com um amigo, num jornal Moçambicano a notícia da morte do líder líbio, Muamar khadafi para o qual numa reportagem da RTP África era tido como o início de um novo cenário histórico deste país petrolífero. Tudo isto marcava o despertar de sonhos inquietantes.
Assim, várias questões principiavam o meu assolo conceptual, a questão do conceito história e o papel do sujeito na sua construção, a questão da liberdade como motor da história, a questão da intersubjectivação na história, etc., referindo-me sobre tudo ao Continente africano.
Afinal o que define a história ou ainda o que é a história? Será a morte o veitor fundamental da compreensão ou do prenúncio histórico? Se a morte é o motor da história qual é o papel, primeiro da Unidade Africana como continente do líder líbio e da NATO no processo desta construção?
Mais importante compreender é a questão do seres como devientes sempre para a morte em negação a vida sempre almejada a uma dimensão eterna. A história é um espectáculo dos homens vivido por nós próprios como sujeitos mundanos a partir do momento que nos é dado a existir movida pela própria razão, por vezes inconsciente. A razão inconsciente caracteriza todos os homens que, por detrás da morte, por exemplo do líder líbio pairam cânticos e gritos da liberdade. O que é a liberdade? Gozará um dia o homem de uma liberdade? Que relação: morte, liberdade e história?
Um dos gritos educadores dos moçambicanos deu-se com a inauguração do presumido ano Samora Moisés Machel para o qual são chamados a não abandonarem a sua história. Neste contexto a história dos moçambicanos coincide com os movimentos de libertação encabeçados por Machel e que fizeram de Moçambique um país independente, da colonização, repito só da colonização ocidental. Porquê a Líbia e seu povo devem abandonar a história, sendo a história a coincidência entre os líderes de libertação e os seus próprios movimentos? Questão que se estende a todos que definem a história na linha dos movimentos de libertação.
Voltemos a questão da liberdade como cruzamento com a “nova história”. Por liberdade podemos entender a capacidade de autodeterminação quanto ao agir ou não agir, ausência de constrangimentos, acção de sí e por sí, independência, etc. Minha óptica, o que faz a história é mesmo a manifestação de uma liberdade que não nos é própria, não como pretendia Sartre (o homem está condenado a ser livre) mas segundo Kant a nossa lei moral. Se a morte de Khadafi marca, hoje o novo cenário histórico, até que ponto durante 42 anos a Líbia e os líbios estiveram foram de uma lei que era imoral? Será que Khadafi nada fez para merecer um reconhecimento no processo da construção histórica?  
Aos povos líbios deve ficar desde já uma lição no decurso de uma história. As influências comportamentais não fazem dos homens historiadores, a história faz-se sem consciência própria, a consciência não faz a história, ela não é o presente e nem o futuro mas o passado. Portanto, não podemos colocar a dianteira da construção de um novo cenário história, importante é reflectirmos em função da intervenção da NATO e os adventos futuros desta intervenção.
Khadafi, morto hoje pela NATO numa inconsciência culposa dos rebeldes não fará da história um itinerário rumo a liberdade dado que, presumivelmente o povo líbio não era livre. Será que a liberdade far-se-á em função de novas tendência exploradoras, é isto que definirá a história da vossa liberdade?
Somos dados a capacidade de pensar sobre nós próprios, em função de nós mesmos. Porque razão a África está fora de uma justiça que lhe é própria? Qual é o papel dos lideres Africanos na resolução dos conflitos que lhe são próprios?
A história da Líbia far-se-á dentro de um quadro que é próprio da placenta africana, portanto, é urgente pensarmos sobre nossa condição existencial só pena de voltarmos a ser os macacos pelados de toda a tradição histórica e não “homo sapiens” como se cognominou o ser humano, sem que tenhamos sofrido uma evolução genética. O nosso cinismo, a nossa apatia, o nosso medo, a nossa dependência, a nossa vergonha fará de nós sujeitos sem história como pretendia o homem da coruja da minerva (Hegel) ao definir o continente negro fora da razão e da liberdade histórica. Meu apelo é libertar a nossa consciência e tornarmos sujeitos viajantes, não para o medo, a vergonha, a apatia, dependência e cinismo mas para a emancipação progressista, pois que a razão e a emoção devem tender para a nossa liberdade rumo ao nosso desenvolvimento sob pena de não sermos uma espécie reconhecida na história.
Senhores, temos medo de sermos africanos, talvez não quero crer, pela origem do conceito africano-Afriquah ( o que se expõe ao sol, nu, etc) que nos foi inconscientemente atribuído. Se assim for, todos o nomes são dados no nosso inconsciente e o futuro define-os como próprios do nosso ser, devemos concebê-lo em função das nossas acções positivas. A morte de Khadafi não é uma acção positiva em função da nossa africanidade é uma prova de um pensamento africano exterior, para não dizer que o motor da consciência e das razões africanas está fora do nosso próprio espírito e alma que caracterizam o ser do negro.
Quando lutávamos pela nossa liberdade, pela nossa história ou pelo renascer de uma nova consciência, onde a NATO, a ONU, etc estavam, se não como adversário escondidos. Hoje a eles aliámo-nos em nome do nosso desaparecimento inconsciente. Inconsciente a medida em que aplaudimos em função da morte, será a morte a única justiça na educação dos homens do presente bem como do futuro? É urgente que pensemos em novas mentalidades, não da consciência da morte como veículo jurídico. A justiça prende-se, essencialmente na defesa dos direitos, naturais como pretendia John Locke ao exaltar um jusnaturalismo.
“Se a Europa despertar” é título de uma obra do filósofo e historiador alemão Peter Sloterdijk na qual a posição da Europa actual no cenário da civilização, da cultura e da história tornam-se para o autor preocupante. ”. Nesta obra a questão de fundo é até que ponto, a Europa dilacerada de 1945 poderia ser vista como metáfora de um império Moderno esclarecido?
Segundo ele não haverá como pensar a nova Europa dessa virada do milénio se os europeus não retornarem a seus fundamentos históricos filosóficos e buscarem uma orientação programática assentada numa “mitomotricidade” imperial portadora de mitos fundadores que resultam nos esplendores culturais, político e filosófico de que a Europa contemporânea se quer herdeira (Sloterdijk 2002).
A partir de Sloterdijk é urgente que pensemos a nova África, África do continente africano, com uma imagem, identidade, alma, espírito que nos são africanamente próprios embora imersos num contexto global a que este maravilhoso continente faz parte, o mundo, não como simples imitadores dos eventos mundanos mas sim reconstrutores do nosso real em função do nosso “eu” próprio.
Questionamos hoje, em Moçambique as razões que fazem da nossa história um conjunto de juízos e ilações contraditórios: a morte de Mondlane mal contada, de Machel ainda não revelada, não serão exemplos de uma interferência extra-africana escondida um mar de cruzamentos, contraditórios. Senhores, pensemos a nossa África, se a questão for a mudança do apelida do nome, é urgente que o façamos em nome da nossa história e do nosso destino. Não podemos, se quer um segundo perdemos em nome do nosso destino histórico.
Não pretendo aqui dizer que a África deve estar fora do cenário mundial ou global mas deve, a partir da sua globalização ser um espelho da construção dos eventos mundanos, o depositário da herança e do visionismo mundial. Tudo isto depende de nós mesmos como africanos e da nossa própria localização no mundo.
Em nosso contexto, somos apelidados por novas expressões: geração 25 ( vinte e cinco) de Setembro, geração 8 ( oito ) de Março e geração da viragem. As duas gerações, com datas e objectivos previamente definidos. Geração 25 de Setembro - construção de um cenário político moçambicano, dos combatentes de libertação da pátria, hoje amada segundo o seu próprio hino nacional, embora contraditório em sí, geração 08 de Março - da erradicação de um novo espírito académico, a partir das nossas circunstâncias levar avante a educação em Moçambique.
 A Geração da viragem faz de mim um “eu” de consciência deficitária quando me proponho discutir o marco histórico que assinala o seu início bem como os seus objectivos, não interessa, não são as razões de minhas locuções literárias, talvez para momentos aposteriori.
Uma investigação profunda, mostra que estas gerações caracterizam a África como uma alma colectiva. Voltando a Líbia e ao líder Muamar Khadafi, encontramos neste maravilhoso país da construção da história africana, as três gerações embora com apelidações diferentes, o exemplo disso é que o seu líder faz parte de uma geração de libertadores da Pátria neste espaço geográfico. Se a morte de Khadafi é o início de uma história deste país isto mostra que os defensores da pátria africana, hoje no poder constituem o grande obstáculo da construção de uma história das suas nações. Se isto for verdade devemos em nome das influências externas, de uma alavanca pensante que não nos é própria destituí-los em nome da nossa história? Não julgo pertinente este nível de maturidade inútil.
É urgente que pensemos na nossa história não em nome dos conflitos importados, mas da nossa capacidade de trazer solução aos problemas que nos são próprios. Uma elasticidade da nossa razão em função no que respeita aos membros participantes das lutas, faz deles senhores do nosso destino, se isto não é liberdade, não é história, é urgente que pensemos não no conflito mas, no novo contracto social, como pretendia Axel Honneth no “reconhecimento e redistribuição” do que nos é próprio. Reconhecer e redistribuir a riqueza e os nossos homens (lideres) em função do nosso  “eu” enquanto destino.
Não pretendo negar os males de Muamar Khadaf, se ele confinou a liberdade e a história em se, devíamos antes pensar as circunstâncias que disto advém, se é em nome da defesa da sua pátria livre da dependência externa, julgo razão justa, o contrário, não. Deveria, ele próprio ter rendido a sua própria homenagem em nome do seu povo antes que a morte o sufoque., antes do seu contacto com a morte
Minha compreensão própria, em função do destino, contexto que me são próprios e em nome das ideias africanos, respeitando o que é individual, alteridade contextual e mesmo global, recordando por exemplo Kwame N’krumah nas suas ideias de unidade, é urgente que pensemos, enquanto sujeitos pensamento do Cartesianismo, dado que o nosso pensar deve respeitar a nossa existência. Pensar na morte é negar uma existência, uma liberdade e uma história. Não há história fora da existência, só o homem que existente faz a história.
“Embora haja quem pensa que a África não se pode unir, os primeiros esforços de unidade dão-se com o surgimento do pa-negrismo” estas são as palavras de Nkrumah que julgo pertinente a nossa atenção enquanto sujeito cogitantes e senhores do nosso destino histórico a partir de África. Dizia ainda N’Krumah que existe um dever a cumprir, um trabalho para a raça a qual pertencemos, lutando pela própria individualidade sob pena de nada deixarmos ao mundo, teremos abdicado da glória particular a qual somos chamados.
O africano de hoje, em nome do seu próprio reconhecimento transforma-se em Metrossexuais, preocupando-se com o que é aparente em detrimento da construção da sua própria história ou do seu próprio destino, tudo deixando a exploração exógena a partir da sua própria consciência ao seu próprio “Eu” em nome de um destino individual.
Afirmar gritos em África da morte de um líder que por muito lutou pela construção do destino do seu povo, implica negar a sua contribuição na história e assumir que a África deve estar fora do controlo de sí próprio, fazer a história como fautor de programas importados, como objecto de uma história que não é própria.
Enquanto sujeito de uma geração “de viragem” para quem pertence é urgente que se adoptem novas formas de salvar o nosso continente, não com base nas críticas sem fundamento mas na busca de solução dialéctica dentro de nós próprios na nossa relação com os nossos problemas. Cada é um mal a partir de momento é que vem a este mundo e, o mundo é cruzamento dos males dos homens.
Definir a história em função da morte, em África implica de certa forma recuarmos aos ideias de Fukuyama que faziam da história um cruzamento com o último homem, ou ainda o triunfo da democracia liberal.
A morte não deve ser pensada nos ditames do triunfo histórico, pois que a história não é definida em função da morte nem na sua relação, deve ser compreendida em função de uma crise que assola a dimensão de um espírito humano, nos nossos atrelados literários uma crise africana.
Nossa compreensão, Khadafi definiu-se em função dos seus ideias, sobretudo africanos que faziam dele senhor do seu próprio destino, orientado pelo seu próprio espírito pensante tal como encontramos nos diálogos platónicos ao fazer de Sócrates o ícone de um pensar filosófico.
É papel de cada consciência africana lutar pelo seu próprio destino, a começar pela defesa do que faz de nós, embora sujeitos globais definidos em função da globalização distintos num contexto de forma a (re) tornar a África aos seus fundamentos ancestrais não como colina dos vendavais da história mundial.
A construção de uma África emancipada que tende a progressos deve ter os seus fundamentos em toda consciência africana, homens e mulheres engajados na luta emancipadora e progressista em função de uma educação ancestral que é própria do no ser africano mas como sujeitos globais em função da nossa globalização.
O ocidente foi caracterizado, desde o período colonial como um vizinho perturbador do nosso isolamento, arrancando a nossa dimensão autónoma como fautores conscientes do nosso destino histórico. Deixar que a África se transforme como colina dos vendavais da história é fazer do nosso vizinho fautor da hiper história.
A história não se pode dividir em função das minorias, mas em consciência aos marcos que assinalam o seu fundamento fenomenológico. O ocidente que se define fautora da hiper história faz das outras humanidades construtoras das mini histórias ou do que não é história, mais ainda cega, muda e surda o continente africano, amarando-o a uma existência precária. Sinceramente, como africano que sou isto enerva o meu eu e não me deixa olhar o mundo como simples espectador mas como fautor das ideias deste continente. Meus fundamentos apelativos chamam atenção a todos africanos a defesa dos últimos soldados do império africano.
Apoiemo-nos a Karl Popper na ideia de um caminho a percorrer.
"Penso que só há um caminho para a ciência ou para a filosofia: encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele; casar e viver feliz com ele até que a morte vos separe - a não ser que encontrem um outro problema ainda mais fascinante, ou, evidentemente, a não ser que obtenham uma solução. Mas, mesmo que obtenham uma solução, poderão então descobrir, para vosso deleite, a existência de toda uma família de problemas-filhos, encantadores ainda que talvez difíceis, para cujo bem-estar poderão trabalhar, com um sentido, até ao fim dos vossos dias."
Portanto, no nosso seio africano devemos definir os nossos caminhos bem como os seus problemas e, a partir do quais lutarmos pela defesa no mundo, também como sujeitos da história, construindo os deleites do nosso meio geográfico em prol de existência eterna da nossa África. Tudo passa de um contracto conceptual entre a dimensão africana e a dimensão racional. Portanto, não devemos tão-somente nos apegarmos a um Deus que não é próprio do nosso ser, ou que tenha desde sempre se revelado como detentor incontestável da nossa dor enquanto sujeito oprimidos, o ocidente. É urgente que pensemos nas formas da nossa libertação. Julgo que a questão comum que deve reinar toda a consciência africana deve ser: Como livrar-me deste amor com o Ocidente que embora com ínfimos grãos de açúcar me causa desde sempre uma dor?
Quando pela primeira, os homens entram em comunidade como seres, devem definir os caminhos do norte comunitário e, a partir deles auto edificarem-se em função das especificidades que são próprias mas vistas numa dimensão de conjunto comunal. O grande problema do espírito e do ser africano é a dificuldade de encarar o mundo respeitando a essência do ser africano. Quando lê, por exemplo uma obra de um autor ocidental facilmente deixa o seu espírito comover-se com os deleites dos conceitos manipulados em função de um problema ocidental, adoptando-os num contexto africano. Tendemos a construir uma África a imagem ocidental. Minha questão, será que devemos nos preocupar com a construção de uma África ocidental? Ou ainda como pretendia Castiano (76:2011) ao compreender a filosofia como reflexo dos fundamentos mitológicos, isto é, como espelho do mito.
O ocidente é hoje o espelho a partir do qual definimos os fundamentos do nosso ser. O mais perigoso é espelharmo-nos sem consciência crítica, pois que, o espelho não sempre oferece tudo que nos é próprio mas também oferece-nos bases para a nossa contínua indagação. Devemos respeitar a dupla significação do conceito espelhar: Primeiro significa buscar no espelho as minhas fraquezas e corrigi-las em função do eu próprio, segundo buscar os fundamentos epistemológicos a partir dos quais o eu não se apresenta como tal. Mas numa dimensão de virtualidade, o espelho não é o eu enquanto tal. é urgente que a dimensão ontológica do “muntu” respeite a dupla significação reflectida no espelho  de forma a libertar-se continuamente.
Quando leio uma obra de um escritor ocidental tenho que buscar os fundamento a partir dos quais foi possível a sua construção literária, por exemplo quando leio a obra de Sloterdijk “ Se a Europa Despertar” tento buscar os fundamento que advém deste renascer europeu, neste caso o seu percurso na construção da história mundial, da qual a colonização faz parte, reflectir sobre a nova colonização que caracterizará o despertar da Europa, sinceramente isto não interessa para o nosso continente, mas sim o nosso nascer. Julgo que a que a África como continente ainda não nasceu, se nasceu perdeu o seu cordão umbilical a partir do qual deve buscar os seus fundamentos ontológicos.
A perda do cordão umbilical da África deu-se pela primeira vez com a invasão ocidental num esforço de colonização deste continente, para qual marcava o prenúncio da nossa programação, da nossa aculturação, da nossa historiarização, etc, fazendo de nós seres isolados com a sua táctica de dividir para melhor colonizar.
Uma vez divididos os nossos esforços de edificação de um continente progressista tornam-se cada vez mais reduzidos. Meu apelo é que sejamos todos unidos, assim definiremos o nosso itinerário africano.
Por Escandação Tivane