sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nelson Mandela: Proibido de morrer

Perante a nossa angústia sobre a morte, sentimos um profundo desconforto quando nos deparamos com o possível desaparecimento físico de Nelson Mandela. Não queremos perder Madiba: homem venerado no mundo inteiro por causa dos seus actos, criando assim uma espécie de culto que ele nunca cobrou ou solicitou. Apesar do seu estado de saúde continuar crítico e grave, apresentamos orações e mensagens de conforto e de compaixão.
Tudo isso porque ele encarna os valores universais, isto é, os valores do perdão e da reconciliação por ter tirado África do sul da apartheid e ter renunciado e impedido à vingança contra os bôers racistas, que o manteve na prisão durante 27 anos.
No entanto, longe de assumir um papel divino, Mandela é, ao contrário, humano, a essência do ser humano em tudo o que essa palavra pode significar. E a morte é o destino que não temos escolhas e que todos nós os seres vivos, teremos que enfrentar.  
Contudo, não é o seu desaparecimento físico que vai anular ou desacreditar o seu heroísmo. Ele já deu muito ao mundo. Mas parece que veneramos Mandela sem viver os seus ensinamentos. Criamos uma espécie de culto à sua figura sem pôr em prática os valores universais que sempre defendeu.
Mas ao mesmo tempo perguntamos: Será que os ideais de Mandela propõem um novo modo de agir? O que trazem como benefícios para nós que o veneramos tanto assim? Como reaviver e resgatar os valores universais ensinados por Mandela em nosso dia a dia? Como ter uma nova sociedade, formada por homens de princípios e valores segundo os ensinamentos de Mandela?

sábado, 22 de junho de 2013

O INIMIGO DO POVO

Se o povo tem um inimigo, esse inimigo é o chefe máximo. O chefe máximo no geral é ganancioso, busca acima de tudo o poder, e consequentemente muito dinheiro, pois afinal, na nossa pátria amada dinheiro é poder, todo mundo sabe disso. E para que o chefe máximo deseja poder e dinheiro? Justamente para se impor aos outros, ser melhor que os outros. E quem são os outros? Os outros são seus próprios compatriotas da sua própria raça.
Por isso, o poder e a ganância desmedida pelo "ter", do chefe máximo, conduzem a nossa sociedade na injustiça e desigualdade em que muitos têm pouco e poucos têm muito.
E o desejo do chefe máximo é que todos sejamos acríticos, isto é, aceitemos todas as suas determinações silenciosamente, sem qualquer protesto.
Assim sendo, o chefe máximo metamorfoseia-se num lobo feroz, que sempre ataca o seu povo, e o impede de reclamar contra a ordem vigente, deixando-o em completa ignorância.
Mas o chefe máximo esquece de que o poder emana do povo, e como líder apenas nos representa, e um dia as coisas podem mudar.

O SENTIMENTO GERAL

O sentimento predominante em todo o país é o de que o actual modelo esgotou-se. Por isso, o país não pode insistir nesse caminho, sob pena de ficar numa estagnação crónica ou até mesmo de sofrer, mais cedo ou mais tarde, um colapso.
O mais importante, no entanto, é que essa percepção aguda do fracasso do actual modelo não está conduzindo ao desánimo, ao negativismo, nem ao protesto destrutivo. Ao contrário: apesar de todo o sofrimento injusto e desnecessário que é obrigada a suportar, o povo tem esperança e acredita nas possibilidades do país, mostrando-se disposta a apoiar e a sustentar um projecto alternativo nas próximas eleições, que faça Moçambique crescer, gerar empregos e reduzir a criminalidade.

Portanto, o sentimento geral é que o povo moçambicano quer mudar. Mudar para crescer, incluir, pacificar. Mudar para conquistar o desenvolvimento económico que hoje não temos e a justiça social que tanto almejamos. Por isso, há uma poderosa vontade popular de encerrar o actual ciclo económico e político para se unirem em torno de um programa de mudanças corajosas e responsáveis. O futuro do nosso país depende de nós, da nossa capacidade de criação, inovação e intervenção. No fundo, a verdadeira alternativa somos nós!

quarta-feira, 13 de março de 2013

A vergonha de um panorama inquietante

 A Pobreza e a Exclusão Social são os principais obstáculos da existência de um bom clima de Paz em Moçambique. As causas de tamanho paradoxo, num país que nunca produziu e acumulou tanta riqueza, são a indiferença, a intolerância, a ganância e a falta de Amor geradores de conflitos, descontentamentos e desemprego.
Como problema nacional que é, o binómio pobreza-exclusão ao envergonhar, humilhar e marginalizar mais o nosso país, retirando-lhe qualquer esperança.
Portanto, a pobreza e a exclusão são a nossa vergonha. Só nos resta combatê-la. Com determinação, sem corrupção, com humanismo e compaixão para com o nosso povo onde se incluem, evidentemente, todo o povo, que partilha, no seu dia-a-dia, os nossos problemas, anseios e alegrias. Como nação que somos é uma questão de dignidade nacional.
Por isso, é possível reduzir drasticamente a pobreza e a exclusão social em Moçambique. Esse objectivo será conseguido se fizermos do imperativo de acabarmos com esta nossa vergonha uma Causa Nacional. Tal exige vontade, meios, empenho e a união de todos: partidos políticos responsáveis, forças económicas, sociedade civil esclarecida e organizada e cidadãos voluntários, activos e solidários. Só mobilizados e motivados, em nome de Moçambique, criando mais riqueza nacional e não aceitando olhar para essa vergonha como uma fatalidade, é que venceremos. Se não o fizermos, e já, poderá estar em causa a nossa Democracia e o nosso futuro colectivo enquanto Nação.
Eis o panoramadidd inquietante que pode matar, mais depressa do que pensamos, as nossas Democracias, Liberdades e Garantias. É a temível “Bomba Social”: tão falada mas tão menosprezada. Não nos iludamos: o problema é grave. A maioria da nossa população vive na pobreza e os guetos de exclusão social existem! Ainda podem aumentar...São factos indesmentíveis. Só quem não está atento ao país real é que se deixa ludibriar.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Filósofos Moçambicanos: o conforto de um silêncio cúmplice

O rumo das mudanças em Moçambique, nos últimos anos, criou um quadro altamente desfavorável e desincentivador da prática e da intervenção filosóficas. A consciência crítica, quando existe, aparece como sendo algo desconfortável à mentalidade colectiva do "politicamente correcto" e os filósofos moçambicanos, dependentes que estão deste tecido social e das instâncias decisoras, parecem preferir o conforto de um silêncio cúmplice do que assumirem uma tradição pro-socrática de denúncia da ignorância, da incompetência da mediocridade, da corrupção e da má gestão da coisa pública.
E quando interpelados por cidadãos, por pais, por vizinhos, por alunos, sobre a utilidade da filosofia ou que andam realmente a fazer, os filósofos nacionais, balbuciam uma resposta tímida, sem convicção e cheia de sentimentos de culpa.
Como esperamos que alguém compreenda o que se pode ganhar com a Filosofia, se a reacção dos pretensos protagonistas é esta? Como podemos esperar que alguém reconheça o valor dos filósofos, se é evidente a incapacidade de demonstrarmos inequivocamente que a Filosofia é algo indispensável em qualquer quadrante da vida pública de um país civilizado?
Aparentemente, desde que esteja garantido um subsídio à investigação, ou desde que o ordenado de cada um esteja assegurado, parece que isso é suficiente.
Daí que perguntamos: será que temos razão em perguntar porque não se sente a presença e a participação dos filósofos moçambicanos na vida cultural, desportiva, moral e política da sociedade moçambicana? Será que temos razão em perguntar, finalmente, porque não há filósofos que liderem uma voz contra o estado actual de coisas em Moçambique? Será que os filósofos moçambicanos só servem para sala de aula, repetindo, imitando, copiando e memorizando Sócrates, Platão, Kant, Hume e outros até a morte? Será que o ensino de filosofia é a única saída profissional para os filósofos moçambicanos?
Estas perguntas remetem-nos obviamente, a um novo papel da filosofia porque ela não pode então ficar presa simplesmente como história copiada evitando assim, o uso histórico-subjectivo servilmente imitativo como tem acontecido.
Por isso, a filosofia é, agora, convocada a participar da totalidade da vida social. Está na hora de os filósofos saírem de seus guetos e ocuparem a cena pública sobre os novos desafios que se colocam no horizonte com a tarefa de apreender o tempo no pensamento, a de pensar Moçambique hoje.
Portanto, a Filosofia não é um corpo teórico de conhecimentos confinados à universidade. Ou seja, o pensamento confinado à mera contemplação e auto-satisfação, aquele aspecto complexo do saber de que apenas poucos tem acesso. Como também aquele enigma de conhecimentos de que somente os “escolhidos” têm acesso. É necessário responsabilizar o filósofo como o agente de mudança. Senão, no vão do pensamento o filósofo irá esquecer-se da questão pertinente feita por Kant: “O que posso fazer?” E não apenas “o que posso saber?”.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

África e seus problemas

Qualquer um que olhar pela África, não pode dispensar-se de reflectir seriamente sobre as causas profundas, internas e externas, que provocam os problemas, que continuamente empobrecem o continente em todos os seus aspectos.

Por isso, freqüentemente, a África é apresentada pela imprensa como um mundo atormentado por conflitos, guerras tribais e civis; ou também como o continente da fome, castigado pelo subdesenvolvimento, necessitado de tudo.
Sem esquecer a desertificação, que se soma às tantas feridas do continente. Outro fenómeno desastroso é epidemia de Hiv/Sida que dizima as populações, especialmente os jovens, pondo em risco a própria sobrevivência futura do continente. E existem hoje em África milhões de refugiados e a maioria deles desconhece o verdadeiro motivo de seu exílio, fundamentalmente baseado sobre causas políticas e econômicas, que os despojam do necessário.
África vê hoje em dia o seu futuro, que podia ser limpo e coerente, bastante comprometido por uma questão de ignorância dos seus dirigentes corruptos e distraídos em nome de um sistema político falhado. E a democracia nunca conheceu o valor real, de sistema político que visa servir o povo e satisfazer as suas necessidades. Pelo contrário, tem estado a ser usada para servir um grupo de indivíduos, os que criam empresas políticas  e às quais dão nomes sob a bandeira de Partido Político. O intuito é simples: utilizar os meios do povo para atingir objectivos pessoais – riqueza fácil através de roubos aos pobres povos. E como forma de justificar as suas incompetências, inventaram discurso desculpabilizante em nome da mentira. Mas nós os esclarecidos e atentos já conhecemos este discurso com a ideia que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre vítimas. A culpa já foi da guerra, do colonialismo, do imperialismo, do apartheid, enfim, de tudo e de todos. Menos nossa. É verdade que os outros tiveram a sua dose de culpa no nosso sofrimento. Mas parte da responsabilidade sempre morou dentro de casa. 
Estamos sendo vítimas de um longo processo de desresponsabilização. Esta lavagem de mãos tem sido estimulada por algumas elites africanas que querem permanecer na impunidade. Os culpados estão à partida encontrados: são os outros, os da outra etnia, os da outra raça, os da outra geografia.
Somos peritos na criação do discurso desculpabilizante.
Portanto, estamos, diante de uma África de desamparados, de pessoas que não têm pátria, não têm alimentos, embora sejam ricas de todos os bens; que são destituídas até da própria dignidade, apesar de terem sido os antepassados da humanidade. Uma África pobre e mendiga, levada à miséria pelas mesmas razões políticas que difundem uma cultura de corrupção e de mentira através do continente. Com o desgoverno, muitos políticos contraíram dívidas externas absurdas, a ponto de tornar impensável a esperança de um futuro melhor e de um bem-estar plausível.

Praticamente, tratar-se-ia de uma África que nada conta, que pode não valer nada e que nem deve valer nada. Ao mesmo tempo, estamos convencidos de que a África não é, e jamais deveria ser, uma “terra de jogo de interesse” para as potências económicas e as multinacionais, seja como sofredora (onde a vida tornou-se difícil em todos os níveis) e, hoje, como terra da promessa, pois contém grande parte dos recursos naturais e alimentares da humanidade. A África se apresenta, assim, como terra de todos e de ninguém.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

COMO É DIFÍCIL SER JOVEM

Sobre a juventude, muito já se disse e se dirá. Pode mesmo dizer-se que em todos os tempos e geografias, a juventude é tida como vítima e carrasco. Cortejada e vilipendiada, é este duplo olhar, esta contínua avaliação que faz com que a juventude possa ser entendida como um (tempo) ideal e, por isso, que se desejaria eterno mas que, lamentavelmente (pelo menos para uma boa parte dos indivíduos), não é.
Por isso, em nome de um suposto conflito de geração, pensa-se e diz-se que o País encontra-se refém da juventude, categoria em que se deposita a esperança e o futuro mas que é, simultaneamente, tida como sendo a origem dos problemas com que se confronta o país de que a criminalidade, o consumo de álcool e droga integram a lista de práticas e comportamentos que mais afligem a sociedade moçambicana. Se estes são alguns dos problemas da juventude identificados pela sociedade, os jovens elegem o desemprego como sendo o seu calcanhar-de-aquiles. Não é pois, de estranhar, que esta categoria seja um “grupo-alvo” no quadro das políticas a serem implementadas pelo governo visando o combate aos comportamentos “desviantes” e, muito naturalmente, à melhoria das condições de vida desta categoria.
Actualmente, os jovens são menos politizados, menos engajados e críticos. Isto significa que o papel de agitação cultural e de crítica social que se encontrava no passado alterou-se.
No presente caso, as questões que se colocam são: Que lugar e que papel estão reservados aos jovens, no contexto em que as suas acções possam influenciar e ou determinar o seu futuro na sociedade? De que políticas, de juventude, se poderá falar? E de que juventude se fala?
Falar-se-á de acção dos jovens ou antes de acção sobre os jovens? Ou, ainda, de ambas? Qual o papel que se espera que estes jovens desempenhem (de acordo com os papéis esperados pela sociedade, pelos adultos) e aqueles que os jovens pensam desempenhar?

sábado, 5 de janeiro de 2013

Ano Novo: Entre sonhos e ilusões


Ano Novo é sinónimo de comemorações diversas. Para muitas pessoas, de facto, uma nova etapa está a chegar com novos planos, sonhos, ilusões, enfim... Mas decepção para quem não fez sucesso no que desejou.
Para o mercado, uma euforia total onde o décimo terceiro causou agitações nas compras e isso influenciou o aumento do consumo. Mas apesar do imperativo das festas, final do ano também representou memórias de dor para muitos que perderam seus entes. Isto é, para uns é alegria e euforia. Para outros, dor, sinónimo de perda e, em casos mais extremos, angústia e desolação.
Mas também pode ser uma ocasião em que negamos o que temos e parecemos ser o que não somos. É um momento em que afirmamos nossa maneira de aceitar tudo o que vem de fora sem crítica e postura de fazer, de facto, algo para que o mundo venha a ser melhor.
Abraçamos tudo e todos em nome de um egoísmo inconsciente e de uma bondade equivocada. Os mendigos ganharam plásticos de roupas, comida quente e muitos brinquedos. Mas o ano novo chega e uma dúvida emerge no mesmo ritmo que nosso descompromisso, quer dizer: para onde vão os pobres no fim dessas festas? A pobreza é uma questão basicamente social, mas caímos no simplismo de pensar que estamos “renovando o mundo” doando comida, brinquedo ou roupa.
Oxalá se a renovação de nosso calendário também representasse uma renovação de nossas perspectivas, de nossas acções e do modo como construímos nossas realidades. As comemorações e os votos de final de ano podem ser uma ironia caso nossas atitudes simplesmente repitam o que há por ai. Superar essa condição envolve uma postura radical e crítica das coisas que nos vêm em forma de valores. Sobretudo, as acções não podem se reduzirem a uma data do ano. Essa postura não nega as comemorações, pelo contrário, festejar é sempre bom. Mas também não podemos cair tentação de pensar que a sociedade renova-se com as ironias de natal e com as ilusões de ano novo.