sábado, 23 de fevereiro de 2013

Filósofos Moçambicanos: o conforto de um silêncio cúmplice

O rumo das mudanças em Moçambique, nos últimos anos, criou um quadro altamente desfavorável e desincentivador da prática e da intervenção filosóficas. A consciência crítica, quando existe, aparece como sendo algo desconfortável à mentalidade colectiva do "politicamente correcto" e os filósofos moçambicanos, dependentes que estão deste tecido social e das instâncias decisoras, parecem preferir o conforto de um silêncio cúmplice do que assumirem uma tradição pro-socrática de denúncia da ignorância, da incompetência da mediocridade, da corrupção e da má gestão da coisa pública.
E quando interpelados por cidadãos, por pais, por vizinhos, por alunos, sobre a utilidade da filosofia ou que andam realmente a fazer, os filósofos nacionais, balbuciam uma resposta tímida, sem convicção e cheia de sentimentos de culpa.
Como esperamos que alguém compreenda o que se pode ganhar com a Filosofia, se a reacção dos pretensos protagonistas é esta? Como podemos esperar que alguém reconheça o valor dos filósofos, se é evidente a incapacidade de demonstrarmos inequivocamente que a Filosofia é algo indispensável em qualquer quadrante da vida pública de um país civilizado?
Aparentemente, desde que esteja garantido um subsídio à investigação, ou desde que o ordenado de cada um esteja assegurado, parece que isso é suficiente.
Daí que perguntamos: será que temos razão em perguntar porque não se sente a presença e a participação dos filósofos moçambicanos na vida cultural, desportiva, moral e política da sociedade moçambicana? Será que temos razão em perguntar, finalmente, porque não há filósofos que liderem uma voz contra o estado actual de coisas em Moçambique? Será que os filósofos moçambicanos só servem para sala de aula, repetindo, imitando, copiando e memorizando Sócrates, Platão, Kant, Hume e outros até a morte? Será que o ensino de filosofia é a única saída profissional para os filósofos moçambicanos?
Estas perguntas remetem-nos obviamente, a um novo papel da filosofia porque ela não pode então ficar presa simplesmente como história copiada evitando assim, o uso histórico-subjectivo servilmente imitativo como tem acontecido.
Por isso, a filosofia é, agora, convocada a participar da totalidade da vida social. Está na hora de os filósofos saírem de seus guetos e ocuparem a cena pública sobre os novos desafios que se colocam no horizonte com a tarefa de apreender o tempo no pensamento, a de pensar Moçambique hoje.
Portanto, a Filosofia não é um corpo teórico de conhecimentos confinados à universidade. Ou seja, o pensamento confinado à mera contemplação e auto-satisfação, aquele aspecto complexo do saber de que apenas poucos tem acesso. Como também aquele enigma de conhecimentos de que somente os “escolhidos” têm acesso. É necessário responsabilizar o filósofo como o agente de mudança. Senão, no vão do pensamento o filósofo irá esquecer-se da questão pertinente feita por Kant: “O que posso fazer?” E não apenas “o que posso saber?”.

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