O rumo das mudanças em Moçambique, nos últimos anos,
criou um quadro altamente desfavorável e desincentivador da prática e da
intervenção filosóficas. A consciência crítica, quando existe, aparece como
sendo algo desconfortável à mentalidade colectiva do "politicamente
correcto" e os filósofos moçambicanos, dependentes que estão deste tecido
social e das instâncias decisoras, parecem preferir o conforto de um silêncio
cúmplice do que assumirem uma tradição pro-socrática de denúncia da ignorância,
da incompetência da mediocridade, da corrupção e da má gestão da coisa pública.
E quando interpelados por cidadãos, por pais, por
vizinhos, por alunos, sobre a utilidade da filosofia ou que andam realmente a
fazer, os filósofos nacionais, balbuciam uma resposta tímida, sem convicção e
cheia de sentimentos de culpa.
Como esperamos que alguém compreenda o que se pode
ganhar com a Filosofia, se a reacção dos pretensos protagonistas é esta? Como
podemos esperar que alguém reconheça o valor dos filósofos, se é evidente a
incapacidade de demonstrarmos inequivocamente que a Filosofia é algo
indispensável em qualquer quadrante da vida pública de um país civilizado?
Aparentemente, desde que esteja garantido um
subsídio à investigação, ou desde que o ordenado de cada um esteja assegurado,
parece que isso é suficiente.
Daí que perguntamos: será
que temos razão em perguntar porque não se sente a presença e a participação dos
filósofos moçambicanos na vida cultural, desportiva, moral e política da
sociedade moçambicana? Será que temos razão
em perguntar, finalmente, porque não há filósofos que liderem uma voz contra o
estado actual de coisas em Moçambique? Será que os filósofos moçambicanos só
servem para sala de aula, repetindo, imitando, copiando e memorizando Sócrates,
Platão, Kant, Hume e outros até a morte? Será que o ensino de filosofia é a
única saída profissional para os filósofos moçambicanos?
Estas perguntas
remetem-nos obviamente, a um novo papel da filosofia porque ela não pode então
ficar presa simplesmente como história copiada evitando assim, o uso
histórico-subjectivo servilmente imitativo como tem acontecido.
Por isso, a filosofia
é, agora, convocada a participar da totalidade da vida social. Está na hora de
os filósofos saírem de seus guetos e ocuparem a cena pública sobre os novos
desafios que se colocam no horizonte com a tarefa de apreender o tempo no
pensamento, a de pensar Moçambique hoje.
Portanto, a Filosofia
não é um corpo teórico de conhecimentos confinados à universidade. Ou seja, o
pensamento confinado à mera contemplação e auto-satisfação, aquele aspecto
complexo do saber de que apenas poucos tem acesso. Como também aquele enigma de
conhecimentos de que somente os “escolhidos” têm acesso. É necessário
responsabilizar o filósofo como o agente de mudança. Senão, no vão do
pensamento o filósofo irá esquecer-se da questão pertinente feita por Kant: “O
que posso fazer?” E não apenas “o que posso saber?”.